Antonio Corrêa Lacerda, que veio à ao Clube “trocar ideias”, de acordo com suas palavras, sobre o Consumo Brasileiro atual e sua perspectiva para a economia, iniciou dizendo que falaria um pouco de sua experiência acadêmica, agregada à sua atuação empresarial, pois trabalhou por muitos anos em uma grande multinacional como economista e hoje é consultor de empresas.
Não só na universidade como também no ambiente empresarial, fala-se muito sobre os grandes riscos e as oportunidades da economia brasileira, que vive hoje uma fase muito complexa dentro da economia mundial, que desde 2008 vivencia sucessivas crises: primeiro a crise norte-americana, depois a Europeia e agora Venezuelana e a Argentina. A dos países sul-americanos tem para o Brasil um significado muito importante devido às exportações brasileiras por representar um impacto quase tão significativo para a nossa economia tanto quanto a que tivemos com as crises dos países maiores como Estados Unidos e europeus. A economia brasileira vive um longo período de baixo crescimento; este é o 4º ano que nós vamos crescer em torno de 2% apenas. O mais curioso é que esse é o primeiro paradoxo que se observa neste cenário, o Brasil ao contrário da maioria dos países citados não tem problema de desemprego, muito pelo contrário, vivemos hoje justamente o inverso: a dificuldade de contratação de mão de obra, tanto para funções menos qualificadas como especializadas.
O crescimento brasileiro embora baixo, tem sido consistente, um fator importante para a manutenção da renda, a ascensão de novos consumidores; a chamada classe média e grande parte do consumo interno, hoje é abastecida pela importação, deixando a maior parte de nossas indústrias com um nível de ociosidade entre 20% e 25%.
O ambiente atual realmente não está favorável à produção, mas sim para a importação, por que a tributação sobre a importação é menor e o nosso câmbio absurdamente distorcido, além de fatores de competitividade desfavoráveis como: infraestrutura, logística e o desafio das empresas em inovação e produtividade. No entanto, o Brasil a despeito do baixo crescimento dos últimos anos está entre aqueles que atraem mais investimentos.
Para o investidor, muitas vezes algumas carências do país como portos, aeroportos, estradas, etc., é uma grande oportunidade, porque outros países que competem com o Brasil, como por exemplo a China, têm excesso de investimentos e uma infraestrutura já preparada para as próximas décadas, o que significa que grandes investimentos não ocorrerão. Por isso, a infraestrutura sem dúvida é um mercado promissor no Brasil, assim como a construção civil, que apresenta um déficit habitacional muito elevado, de cerca de seis milhões de moradias. Associado às demandas de infraestrutura, obras importantes deverão ser desenvolvidas. E o que tem nos impedido então aproveitar melhor essas oportunidades? A pressão significativa que o Brasil está tendo sobre inflação no curto prazo, sendo este o principal problema a ser enfrentado. Qual é o problema específico da inflação brasileira atual? Sua forte concentração em alimentos, que pesa muito no orçamento das famílias, uma inflação relativamente contida com base no represamento de preços administrados e basicamente combustíveis, energia e transportes públicos, que também represados, geram grandes distorções.
Não é possível reproduzir mundialmente o padrão de consumo ao qual se chegou hoje nos países desenvolvidos e mesmo que fosse possível, para reproduzirmos o padrão norte-americano e europeu, nos seria impossível pela carência de recursos naturais, o que nos leva à necessária melhoria dos padrões de distribuição de renda, utilização mais segura dos bens sociais e dos recursos naturais, que é uma agenda que extrapola o âmbito nacional, mas que sem dúvida o Brasil tem um papel muito relevante.
