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AS SETE HABILIDADES DE TORO

Benedicto Ismael C. Dutra
17/09/2009



O educador, filósofo e sociólogo Jose Bernardo Toro vem dedicando a sua obra a desafiar os países latino-americanos a agir em busca de uma sociedade mais justa e democrática, baseada no sujeito cidadão, fonte de criação de ordem social. Para ele, essa é a condição para a sobrevivência no século XXI. Nesse sentido, o desafio que o autor nos propõe é radical. Para Toro, essa forma de viver justa e democrática não é algo dado e também não pode ser imposta ao contexto social. É sim uma cosmo visão, fruto da construção do que é "público", dos valores e princípios a serem compartilhados por todos nós.
 
Para Bernardo Toro, a escola tem a obrigação de formar jovens capazes de viver com dignidade. Partindo de seu foco sobre as realidades social, cultural e econômica, Toro elaborou uma lista identificando sete habilidades que considera necessárias desenvolver nas crianças e jovens para que eles tenham uma participação produtiva no século 21:
  1. Saber ler e escrever com desenvoltura, de modo a poder participar ativa e produtivamente da vida social.
  2. Apresentar a capacidade de fazer cálculos e resolver problemas, utilizando-a nas necessidades do trabalho e da vida diária.
  3. Ter a capacidade de analisar, sintetizar e interpretar dados e fatos, de modo a poder expressar seus pensamentos oralmente ou por escrito.
  4. Ter a capacidade de compreender e atuar socialmente tendo o direito de receber informação e formação que lhe permita atuar como cidadão.
  5. Receber criticamente os meios de comunicação, não se deixando manipular como consumidor e como cidadão.
  6. Apresentar a capacidade de acessar e utilizar, da melhor forma, a informação acumulada, sabendo localizar dados, pessoas e experiências e principalmente saber como utilizar essas informações para resolver problemas.
  7. Ter a capacidade de planejar, trabalhar e decidir em grupo, como saberes estratégicos para produtividade e democratização do conhecimento.
Entre nós, no Brasil, o que se observa é a falta de habilitação dos estudantes para a atividade de leitura, pois ela capacita o leitor a se tornar autodidata, buscando o conhecimento nas áreas de sua preferência. A leitura propicia a movimentação da inteligência emocional, o eu interior.
 
Além das conclusões a que Bernardo Toro chegou, devemos acrescentar que as pessoas estão agindo com base, prioritariamente, no seu raciocínio e se afastam, cada vez mais, da intuição, não conseguindo mais ouvir a voz interior. Torna-se necessário ampliar a percepção intuitiva que provem do eu interior, para que não se formem gerações que pensam mecanicamente, sem a participação da alma. De acordo com a autora Patrícia Eisten, a intuição pode ser entendida como a capacidade natural que permite perceber muito além dos cinco sentidos e simplesmente da lógica. Esse reservatório espantosamente rico, uma vez aberto, é capaz de conferir uma profunda entrevisão, conhecimento e inspiração, para orientar cada setor da vida.
 
A palavra intuição é compreendida de diferentes maneiras por diferentes pessoas. Para uns ela é o discernimento rápido, a percepção clara e imediata. Para outros é a capacidade de pressentir acontecimentos ou caminhos que levam a solução de difíceis problemas.
 
Muitos estudiosos estão percebendo que a busca frenética do cérebro para querer compreender tudo, está levando a uma congestão mental, travando a tomada de decisões porque os seres humanos estão perdendo a capacidade de distinguir intuitivamente o caminho acertado. Sobrecarregados e inseguros ficam rodeando os problemas, fazendo análises sobre análises. Vacilantes, perderam a intuição até para as coisas mais simples.
 
Algumas pessoas que não se deixaram dominar de todo pela subordinação exclusiva ao intelecto, e que por isso mesmo ainda conservam alguma capacidade intuitiva, por vezes vislumbram idéias tão fortes que, ao falarem, demonstram tanta firmeza e convicção que para muitos se afigura como ousadia ou impertinência, porque suas palavras são tão penetrantes que extravasam qualquer limitação, indo direto ao âmago do problema sem maiores rodeios ou delongas.
 
Contudo, tais pessoas sempre encontram resistência exatamente da parte dos seres humanos predominantemente intelectivos, os quais se sentem afrontados por não perceberem que não se trata apenas de agilidade mental, mas sim da utilização de certa capacidade intuitiva perdida por eles, a qual os capacitaria a enxergar mais longe. Por isso mesmo não conseguem compreender com a mesma rapidez, procurando criar dificuldades com o seu desprezo ao invés de oferecerem o seu apoio e reconhecimento.
 
A desconfiança impossibilita que haja uma sadia união de esforços. Mas num futuro não muito distante os seres humanos finalmente alcançarão o real progresso, pois somente conseguirão atuar com o equilíbrio entre a intuição e o raciocínio.
 
Os ensinamentos escolares são em muitas matérias extensos e áridos, tendo pouco a ver com a realidade natural. Desde cedo as crianças têm a sua mente empanturrada de teorias abstratas na maior parte criadas pelo cérebro humano. As crianças devem ter o seu aprendizado observando o inter-relacionamento da natureza e suas maravilhas como as majestosas florestas, rios de águas límpidas, mares e montanhas, e a grande alegria reinante através de sua fauna de variada espécie.
 
Os meios de comunicação também pressionam a mente com uma enormidade de informações elaboradas de tal forma que penetram em nosso intimo com formas negativas e destrutivas. Os videogames e videoclipes também dão a sua contribuição no embrutecimento da sensibilidade infantil. Isso tudo sobrecarrega a mente. Ou então, a própria vaidade leva o indivíduo a complicar as coisas para valorizá-las ao invés de buscar a firmeza que há na simplificação. Assim, de geração em geração a intuição se tem esvaído da face da Terra, impedindo o surgimento de seres humanos de elevada qualidade, aptos a construir um mundo de paz e felicidade.



Benedicto Ismael Camargo Dutra é graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP, faz parte do Conselho de Administração do Hotel Transamerica Berrini e é associado ao Rotary Club de São Paulo. É articulista colaborador de jornais e realiza palestras sobre temas ligados à qualidade de vida. É também coordenador dos sites www.vidaeaprendizado.com.br e www.library.com.br, e autor dos livros: “Nola – o manuscrito que abalou o mundo”;“2012...e depois?”;“Desenvolvimento Humano”; “O Homem Sábio e os Jovens” ,“A trajetória do ser humano na Terra – em busca da verdade e da felicidade”; e “O segredo de Darwin - Uma aventura em busca da origem da vida”(Madras Editora). E-mail: bicdutra@library.com.br; Twitter: @bidutra7
Comentários:


minelva (rrytardeii@hotmail.com) comentou em 07/02/2014 - 20:02:19

gostaria de receber

Alecio dos Santos Rocha (alecio.rocha25@gmail.com) comentou em 03/11/2014 - 21:11:42

Interessantíssimo e esclarecedor !!!Que essa cultura e que trabalhos e pensadores assim,sejam mais reconhecidos socialmente e pessoas reflitam em sua construção pedagógica !!!


Roberto Bedaque (r.bedaque23@gmail.com) comentou em 19/05/2016 - 08:05:11

Prezado Professor, seu artigo foi muito inspirador, e deixa claro que esses desafios precisam ser vencidos. Gostei também dos comentários sobre intuição. Parabéns e obrigado por compartilhar.

cleo (cleanacosta@yahoo.com.br) comentou em 18/11/2016 - 21:11:34

Alguém poderia citar para mim as obras publicada de Bernardo Toro?
GRATA.


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