O filme
Alexandria faz excelente reconstituição da história daqueles anos tumultuados em que os discípulos de Jesus fugiram de Jerusalém e cuidavam de divulgar os ensinamentos do Mestre sobre o significado da Criação e suas leis naturais, como o de que “o que se semeia se colhe, seja trigo, bondades ou maldades”. Muitos deles se dirigiram para Roma, mas com o passar dos séculos as explicações foram sendo alteradas pela memória e escritas da forma como eram lembradas, restando com mais força os aspectos pessoais sobre a pessoa de Jesus, que dizia aos seus discípulos que retornaria à sua pátria de onde não voltaria mais, e em seu lugar viria o Filho do Homem para completar os ensinamentos.
A população sentia forte atração pelos ensinamentos de Jesus e uma organização religiosa foi ganhando corpo e influência. Constantino, o imperador romano, viu no cristianismo nascente a oportunidade para reunificar o império fragmentado; assim, os bispos assumiram o poder. Uma nova religião passou a se confrontar com a religião do povo judeu e com o saber sobre os entes da natureza, o qual foi transformado em mitologia. Abria-se um abismo entre a religião dos bispos romanos e o saber da Criação e suas leis. O saber espiritual, que deveria ter sido enriquecido com os ensinamentos de Jesus, entrou em processo de estagnação e indolência espiritual da espécie humana.
Isso é o que se vê em Alexandria, quando os bispos passam a combater e impedir o progresso no saber com o intuito de ampliar seu domínio. Hipátia (Rachel Weisz), filósofa e professora que, em Alexandria, buscava entender a Criação, foi acusada de bruxa e forçada a crer nos ensinamentos da Igreja; mas ela não podia acreditar cegamente sem questionar e por isso foi condenada para não prejudicar a ampliação da indolência.