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EDUCAÇÃO NOS TEMPOS MODERNOS

Benedicto Ismael C. Dutra
18/03/2010



Entrevista para o site "O Gerente"

O escritor e palestrante Benedicto Dutra foi entrevistado sobre o tema “Necessidade de Educação nos Tempos Modernos“. Benedicto lançou recentemente seu livro “Conversando com o Homem Sábio – A Visão de um Melhor Futuro“, destinado a jovens de todas as idades, com a finalidade de incentivá-los a adquirir atitudes positivas em relação à vida.

Pergunta feita por Luiz de Paiva - 1) Vemos que grande parte das instituições de ensino ainda possui um currículo que não está completamente alinhado com o mercado de trabalho. Isto é natural do mundo acadêmico ou é necessária uma evolução para atender à real necessidade de educação dos jovens?

Evidentemente, a real educação dos jovens exige uma adaptação aos tempos atuais. Todos nós percebemos que a escola está passando por uma séria crise na sua função. Temos uma enorme população de adolescentes despreparados para a vida. As famílias se desestruturam, os pais não conseguem motivar os filhos a se prepararem para a vida, o que exige que a escola assuma responsabilidade ainda maior, demandando dos professores esforço e dedicação como em nenhuma outra época. Para que seja alcançada uma boa educação, necessitamos resgatar o respeito humano e a consideração mútua nas salas de aula, oferecendo aos professores reconhecimento e apoio para motivar os alunos a: aprender a utilização das preposições e dos verbos; aderir ao hábito da leitura, mostrando aos jovens uma visão mais real e otimista da vida; adquirir interesse na formação pessoal e aumentar a conscientização para a necessidade do contínuo aprendizado e aprimoramento pessoal.

Pergunta feita por Solange Gonçalves – 2) Com certeza a cada dia nos deparamos com uma necessidade maior em busca de uma educação atualizada e mais voltada a realidades diferentes.

Penso que as questões primordiais, dentre várias outras, seriam:

A reestruturação do currículo e a adaptação deste à realidade do público alvo;

E, somada a esta realidade, a avaliação do professor em sala de aula, ou seja: o professor consegue atingir os objetivos? Há domínio de conteúdo? Há temas atuais em sala de aula? Enfim, é preciso uma avaliação periódica do contexto docente.

De que forma seria possível incutir esta consciência de um currículo atualizado e, ao mesmo tempo, um maior comprometimento dos professores em relação a esta educação moderna, que se faz urgente, para que as instituições de ensino formem alunos mais preparados pessoal e profissionalmente?

Atualmente, no planeta, o analfabetismo atinge cerca de 759 milhões de adultos. Mais de 140 milhões de crianças e jovens continuam fora da escola, sem a oportunidade de estudar. Não basta alfabetizar, é necessário fazê-los apreciar a leitura.

Os estudantes precisam se empolgar com a vida e aprender de tudo, principiando pelas coisas mais simples que diretamente os atingem, seguindo o princípio do atendimento das necessidades humanas estudadas pelo psicólogo norte-americano Abraham Maslow, avançando sempre para que não fiquem estagnados e acomodados no atendimento das necessidades mais elementares, mas sim que busquem o aprimoramento da espécie humana como meta prioritária de tudo o que fazemos, aprendendo sobre o corpo humano e a conservação da saúde, sobre a alimentação, sobre a serenidade da mente e o controle dos pensamentos negativos.

Na avaliação da Unesco, o Brasil poderia se encontrar em uma situação melhor se não fosse a baixa qualidade do seu ensino. Das quatro metas quantificáveis usadas pela organização, o país registra altos índices em três (atendimento universal, igualdade de gênero e analfabetismo), mas um indicador muito baixo no porcentual de crianças que ultrapassa o 5º ano. Problemas que a educação brasileira ainda enfrenta, como a estrutura física precária das escolas e o número baixo de horas em sala de aula, são apontados pelos técnicos da Unesco como fatores determinantes para a avaliação da qualidade do ensino.

Muitos jovens não estão satisfeitos, alegando que temos lhes oferecido muitas futilidades ao invés do saber real sobre a vida. Então, eles se cansam da escola, abandonando-a por julgarem que ela não lhes oferece nada de novo. O conhecimento sobre o nascimento do planeta Terra e o funcionamento dos mecanismos que possibilitam a vida são indispensáveis para a formação de uma humanidade que possa admirar a cooperação e a paz. Necessitamos conscientizá-los de que fazem parte do povo dos seres humanos, devendo por isso ter como objetivo a contínua melhora pessoal e o aprimoramento da qualidade de vida.

Pergunta feita por Edvaldo Albino – 3) Para o ensino técnico e tecnológico as empresas poderiam colaborar com a implantação de laboratórios e formação de pessoal docente de forma constante e sistematizada podendo até ter redução de impostos com o governo?

No passado não havia muitas escolas. Aprendia-se fazendo em companhia dos mestres artesãos, que ensinavam o ofício e também conversavam sobre a vida.

A educação deveria ter como base incentivar o preparo para a vida, pois através dele os jovens adquirem maior consciência sobre si mesmos, o que os conduz ao aumento do interesse e da capacitação para o aprendizado geral, inclusive o profissional, ficando mais aptos para ingressar no mercado de trabalho.
Quando se trata de ensino técnico, o mais eficiente é aprender fazendo, daí a necessidade da integração entre escolas, empresas e governo.

4) Qual é o verdadeiro papel do professor em um mundo no qual a informação está ao alcance de todos fora da sala de aula?

O cientista Charles Darwin pesquisou o instinto imitativo existente nos animais e nos humanos. Os animais aprendem por imitação. Os humanos também. Então, eles precisam de modelos adequados para copiarem até que, com seu próprio discernimento, assumam as atitudes que julgarem mais apropriadas. Eis aí a grande importância do professor: ele tem de ser humano, demonstrar atitudes humanas, pois máquinas para ensinar já existem muitas. É sempre útil seguir as pegadas de quem abriu caminhos.

Entre nós, no Brasil, o que se observa é a falta de habilitação dos estudantes para a atividade de leitura e para o raciocínio lógico. Ambos capacitam o leitor a se tornar autodidata, buscando o conhecimento nas áreas de sua preferência. A leitura propicia a movimentação da inteligência emocional, o raciocínio lógico e a análise reflexiva, o que leva à compreensão intuitiva, que é a real compreensão.

Capacitados a ler bem, os estudantes vão começar a raciocinar com mais clareza e estarão mais aptos a definir as suas metas e a aprender sempre. A educação é a solução para um melhor futuro, mas só desejar não é suficiente, é preciso transformar o querer em ação.

Com seis indicações ao Oscar 2010, o filme Preciosa – uma história de esperança, mostra a importância da educação, pois sua personagem principal, a jovem Claireece Precious, só começou a ter consciência de si e da vida depois de adquirir habilidade para ler e escrever.

Para que seja atendida a finalidade prioritária de elevar a qualidade humana, o essencial é a vontade interior: os estudantes, professores e a sociedade em geral precisam transformar o querer em ação – o “querer” aprender e o “querer” ensinar – pois sem isso, nenhuma outra condição produzirá melhoras consideráveis na qualidade do ensino e no nível do aprendizado.

5) A internet é uma fonte inesgotável de informação para aqueles que querem se atualizar. Como o profissional que quer se desenvolver na carreira deve decidir entre realizar auto-estudo ou fazer um curso mais formal?

A internet é uma revolução na forma de propagar conhecimentos. No entanto, o ser humano, para aprender de fato, precisa desenvolver a sua consciência, comunicar-se consigo mesmo para entender o seu papel na vida e não ser um mero robô. A internet é excelente, mas não substitui as horas calmas de leitura e introspecção nem a necessidade de diálogos para esclarecer dúvidas.

6) Ter um MBA ou Pós-Graduação continua tendo a mesma importância que em décadas passadas?

Os cursos complementares deveriam estar sempre na pauta quando se trata de adquirir atualização ou maior especialização. O importante é que os estudantes adquiram senso crítico e disposição para continuar aprendendo sempre, mesmos depois de concluído o curso superior.

7) Em sua visão a educação pública, um pilar fundamental para o crescimento do país, está mostrando sinais de melhora ou continuamos regredindo?

O relatório da Unesco aponta que, apesar da melhora apresentada entre 1999 e 2007, o índice de repetência no ensino fundamental brasileiro (18,7%) é o mais elevado na América Latina e fica expressivamente acima da média mundial (2,9%). Nesse período, iniciou-se uma ação governamental mais firme e muitas coisas foram feitas no país. No entanto, com índices de repetência e abandono da escola entre os mais elevados da América Latina, a educação no Brasil exige medidas apropriadas, pois ainda permanecemos com a qualidade de ensino muito baixa, e não raro com despreparo dos profissionais da educação.

A população regride, a escola baixa o nível, os meios de comunicação de massa acompanham em sua programação e assim cria-se um ciclo descendente.

As universidades produzem filósofos, teólogos, matemáticos e economistas, no entanto, os cientistas e os homens comuns pouco conhecem sobre a profundidade do significado da vida. Assim, os seres humanos vão se acomodando a um modo de vida mecânico, padronizado, que reduz a criatividade individual. Então, a vida vai se tornando muito complicada e áspera, com todas as atividades submetidas a uma rígida burocracia.

8) De que forma o seu novo livro, “O Segredo de Darwin”, pode contribuir para educação atual?

O livro visa incentivar o hábito da leitura examinando questões atuais, que ajudam a compreender a situação da vida humana. A professora Isabel Said, Mestre em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará, captou bem o objetivo do livro junto à classe estudantil, ao afirmar: “O Segredo de Darwin” nos faz refletir sobre o sentido da vida, a origem do ser humano e a busca de novos caminhos diante de um mundo caótico e conturbado. Eu gostei e recomendo para os jovens porque o livro nos dá a esperança de que é possí¬vel mudar o mundo, se começarmos a mudar a nós mesmos. Para as escolas, traz perspectivas de que precisamos privilegiar ensinamentos de acordo com a realidade das pessoas.”

9) Em um mundo onde a disputa, concorrência e os valores materiais falam mais alto, comodirecionar jovens acadêmicos de forma ética, limpa e transparente?

Num mundo onde as pessoas estão se perdendo pela falta de propósitos, estamos necessitando de uma profunda mudança. As pessoas estão ansiando por novo modo de vida menos desgastante, com mais alegria e cooperação, que não destrua o meio ambiente e que propicie a evolução real. Além de obter a melhora das condições materiais, as novas gerações precisam querer ardentemente alcançar a melhora geral, como seres humanos de valor, que buscam a evolução integral e a felicidade do ser humano.




Benedicto Ismael Camargo Dutra é graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP, faz parte do Conselho de Administração do Hotel Transamerica Berrini e é associado ao Rotary Club de São Paulo. É articulista colaborador de jornais e realiza palestras sobre temas ligados à qualidade de vida. É também coordenador dos sites www.vidaeaprendizado.com.br e www.library.com.br, e autor dos livros: “Nola – o manuscrito que abalou o mundo”;“2012...e depois?”;“Desenvolvimento Humano”; “O Homem Sábio e os Jovens” ,“A trajetória do ser humano na Terra – em busca da verdade e da felicidade”; e “O segredo de Darwin - Uma aventura em busca da origem da vida”(Madras Editora). E-mail: bicdutra@library.com.br; Twitter: @bidutra7
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