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O retrocesso anunciado

Benedicto Ismael C. Dutra
12/02/2020



 Durante longo período não havia partidos políticos, só a Igreja e os reis. As regiões descobertas se tornaram colônias. Os feudos foram aglutinados e transformados em Estados. Surgiram os partidos, as eleições e os eleitores foram mobilizados para fazer sua escolha no circo eleitoral. Eleita, a classe política queria mais e mais. O mundo globalizado está descontente com a classe política. Surge o Estado com partido único responsável pela escolha dos gestores e pelo relacionamento econômico com os demais países visando o melhor resultado. Diante da precariedade da economia, os eleitores estão se voltando para os líderes que apregoam a volta ao nacionalismo.

Nos anos 1980, os Estados Unidos elevaram a taxa de juros a 20% ao ano. Países atrasados, como o Brasil, que se endividaram na década de 1970 com juros baixos contratados com taxa flutuante, caíram na armadilha e perderam o rumo. Juros compostos a 20% em dólar é um desastre. O Brasil sangra até hoje, e seus gestores, desde Sarney, não tiveram dúvidas em priorizar interesse próprios, deixando o país de lado.

O economista Delfim Netto explica a grande mudança em andamento no trato da finança pública: "Um fato fundamental é que a política monetária iniciada por Ilan Goldfajn e continuada por Roberto Campos Neto (ajudada pelo rigor fiscal) nos levou a uma taxa de juros e a um ‘risco’ Brasil que eliminaram o carry trade. É, talvez, a primeira vez na nossa história que se criaram as condições para uma taxa de câmbio flutuante sustentada por forças endógenas e não por uma taxa real de juros destrutiva do nosso setor industrial."

Trata-se de uma higienização no rançoso modo de administrar juros, câmbio e o desequilíbrio fiscal produzido pela incompetência e falta de seriedade. Mas urge resolver a questão de como aumentar a produção e renda, que se arrastam no chão por décadas num país em que falta tudo. Taxa Selic de 4,5 %, o estranho é como esteve tanto tempo acima de 12 % a juros compostos. Como essa proeza foi conseguida? Será porque todo o sistema se acha atado às dívidas?

A irresponsabilidade com as contas sempre traz resultados desastrosos, nas contas públicas é terrível com tantas interferências de agentes corruptos. A partir de 2012 caímos de novo na armadilha da grande catástrofe de dívida que hoje toda a nação paga e sofre. Foi um desatino financeiro, um assalto que revelou a cobiça e o imediatismo geral. Temos padecido com a permanente irresponsabilidade no trato das contas públicas e na terrível estrutura monetária e cambial que tem favorecido a especulação em vez de promover a estabilidade econômica.

Diziam os poetas, na década de 1920, que a vida é uma celebração do encantamento. Mas o jornalista francês Gilles Lapouge diz que hoje não é mais assim, pois é na Bolsa para onde vai todo o dinheiro do mundo, cobiçando ganhos mirabolantes, que se contabiliza o valor da vida, enquanto o resto da economia segue para o brejo. Países mal geridos pela corrupção e incompetência estão retrocedendo de degrau em degrau ao chamado terceiro mundo; países pobres, com falta de preparo para a vida, dependentes de uma economia voltada para a agricultura, pecuária e atividade extrativista. A desfaçatez com que os rios e mananciais têm sido manejados mostra bem o declínio.

No mundo áspero no qual vivemos há muitos "lobos" vestidos em pele de "cordeiro", ódio disfarçado em sorrisos, inveja disfarçada em amor e falsidade disfarçada em amizade. É com a intuição que poderemos distinguir os cordeiros reais dos falsos. Se o querer, voltado para o bem, sempre for transformado em ação, a melhora geral será possível, buscando-se o auto aprimoramento, observando a lei do movimento aplicada na grande causa da humanização da vida, através do fortalecimento da espiritualidade e da coesão da vontade das pessoas para irradiar a Luz da Verdade.

Cada ser humano ativo no espírito tem de se adaptar aos meandros dos fios do destino produzidos por ele mesmo, com ampla coerência, incluindo intuição, pensamentos, ações, tudo integrado. Assim como numa árvore, as raízes, tronco e flores estão integrados, no ser humano, espírito, alma, corpo devem estar unidos de forma sadia, buscando elevação. A falta disso gerou as catástrofes que estamos enfrentando.



Benedicto Ismael Camargo Dutra é graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP, faz parte do Conselho de Administração do Hotel Transamerica Berrini e é associado ao Rotary Club de São Paulo. É articulista colaborador de jornais e realiza palestras sobre temas ligados à qualidade de vida. É também coordenador dos sites www.vidaeaprendizado.com.br e www.library.com.br, e autor dos livros: “Nola – o manuscrito que abalou o mundo”;“2012...e depois?”;“Desenvolvimento Humano”; “O Homem Sábio e os Jovens” ,“A trajetória do ser humano na Terra – em busca da verdade e da felicidade”; e “O segredo de Darwin - Uma aventura em busca da origem da vida”(Madras Editora). E-mail: bicdutra@library.com.br; Twitter: @bidutra7
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