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VAI TUDO PRO VINAGRE

Benedicto Ismael C. Dutra
24/12/2010



Elas estavam passeando na feira, falando de compras e de comida. Uma se queixava do preço da carne, outra do feijão e da farinha, o pão subiu muito. Depois de tanto tempo parece que os pobres puseram mais comida na mesa. Uma senhora de cabelos brancos falou: mas não se enganem, há muito desperdiço e roubalheira. Não se pode gastar tudo que se ganha, temos que guardar um pouco para os dias mais difíceis que se avizinham. Pelo jeito, como as coisas andam, muita coisa vai faltar, vamos ver que surpresas 2011 vai nos trazer.

A outra senhora completou, está faltando vergonha. A corda sempre arrebenta no lado mais fraco. Existem tantos golpes: do telefone, normal ou celular; da banda larga, do exíguo espaço nos aviões, da TVA. O mais divertido foi o “golpe do baú”.

E vejam, nem bem ganharam as eleições, muitos governadores já querem por a mão na nova CPMF. É uma vergonha! Vocês lembram-se do papel higiênico de cinquenta metros. Agora só tem de trinta, e o preço não mudou. O negócio do papel higiênico é uma sujeira.

E lá iam elas, apalpando o mamão, experimentando a azeitona, freguesas de muitos anos que tinham conquistado a amizade dos feirantes mais antigos. Não se faz mais filhos como antigamente, diziam. Essas meninas precisam da cesária porque os quadris afinaram. A sorte de muitas crianças é que tem muita creche boa com educadoras que sabem cuidar melhor que as próprias mães, se não as novas gerações iam todas para o vinagre. De onde será que surgiu essa expressão?

Não sei, mas o vinagre é azedo. Será que tem alguma coisa com isso? Pode ser que os jovens andam mal humorados, com tantas dificuldades que a vida moderna oferece que tendem para a irresponsabilidade. O feirante gritava: freguesa, prova o abacaxi, está uma delícia. Hummm, está mesmo. O problema são os outros “abacaxis”: no Brasil, 4 mil cidades estão consumindo crack. Árvores e florestas continuam menosprezadas, apesar de, a cada dia, ocorrer mais catástrofes climáticas. E o pior: o índice de abandono escolar continua crescendo devido à repetência no início do ensino fundamental. Eles já chegam à escola sem nenhum interesse de aprender.

Somos todos criaturas que precisam desenvolver a sua humanidade, seja a geração X, Y, Z ou a anterior a esse conceito. Apesar da aridez da tecnologia temos que ser responsáveis, reconhecer os valores humanísticos, desenvolver a reflexão intuitiva para não se tornar máquina e agir com o coração de ser humano.Os nerds que mexem com informática só pensam em ganhar muito dinheiro. Eles deveriam aproveitar seus talentos para estudar como melhorar o mundo e as condições de vida, mas para isso precisariam de coração para perceber o sofrimento alheio. E você acha que os políticos modernos têm coração? Acabou a ajuda desinteressada, é tudo na base do toma lá, dá cá. O dinheiro tomou conta das pessoas deixando-as insensíveis.

Agora já tem muita gente ficando maluca e furiosa. Parece que coração e computação não se misturam muito, ou por outra, os algoritmos mexem muito com a cabeça, e na falta de uma bagagem humanística, o que importa é o máximo de satisfação e domínio, mesmo que isso acarrete a coisificação das pessoas que acabam deixando a vida passar sem se preocupar com o sentido que ela tem. Poderiam saber tudo o que sabem usando sua habilidade para tecnologia, mas também ter agregado a saudável sabedoria doméstica das donas de casa que vão às feiras em busca de alimentos para seus familiares. Os seres humanos seriam como deveriam ser, e não robôs insensíveis.



Benedicto Ismael Camargo Dutra é graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP, faz parte do Conselho de Administração do Hotel Transamerica Berrini e é associado ao Rotary Club de São Paulo. É articulista colaborador de jornais e realiza palestras sobre temas ligados à qualidade de vida. É também coordenador dos sites www.vidaeaprendizado.com.br e www.library.com.br, e autor dos livros: “Nola – o manuscrito que abalou o mundo”;“2012...e depois?”;“Desenvolvimento Humano”; “O Homem Sábio e os Jovens” ,“A trajetória do ser humano na Terra – em busca da verdade e da felicidade”; e “O segredo de Darwin - Uma aventura em busca da origem da vida”(Madras Editora). E-mail: bicdutra@library.com.br; Twitter: @bidutra7
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