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UMA MANHÃ GLORIOSA

Benedicto Ismael C. Dutra
06/04/2011



Interpretando Mike, um renomado âncora de TV, o cineasta Harrisson Ford quebrou os ovos de suas convicções sobre conteúdo de programação, para fazer uma omelete matinal no programa Daybreak. Isso acontece no filme “Uma manhã gloriosa” de Roger Michell, que focaliza, com alguma comicidade, a questão da importância do índice de audiência na televisão.

Mike queria seriedade, mas o diretor queria audiência. Becky (Rachel McAdams) a produtora, entra na onda do diretor. Para salvar o emprego não vacila em ir baixando o nível com superficialidades, conforme apontado por Pierre Bourdieu em seu livro “Sobre a Televisão”: Superficialidades que visam distrair o público a qualquer preço, com a tendência que se observa por toda parte, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, a sacrificar cada vez mais o editorialista e o repórter-investigador em favor do animador-comunicador, a informação, análise, entrevista aprofundada, discussão de conhecedores ou reportagem, em favor do puro divertimento e, em particular, das tagalerices insignificantes dos talk-shows entre interlocutores habituais e intercambiáveis.

Será que podemos por a culpa apenas na televisão e no perverso sistema de sobrevivência e conservação baseado nos índices de audiência? Sem dúvida o dinheiro exerce uma forte influência, pois com muita agilidade os diretores e produtores sentem-se motivados a, rapidamente, fazerem adaptações na grade de programação.

No entanto, à medida que Becky ia baixando o nível com frivolidades e sensacionalismo, o índice de audiência ia aumentando. Assim ela acabou sendo requisitada para uma entrevista para uma poderosa rede de TV, que queria aproveitar a ousadia dela em baixar o nível da programação, para conseguir aumentar a audiência e o faturamento, dando ao publico a diversão desejada mesmo tendo que apresentar comportamentos insensatos neste mundo de pouco sentido.

Até hoje não está bem esclarecida a influência que a TV exerce sobre a população, sobre seu humor e disposição para enfrentar os desafios da vida. Conforme o nível baixa, baixa também a capacidade de compreensão do espectador como pode ser observado no progressivo aumento da programação de baixo nível. As novas gerações estão perdendo a capacidade de concentração. A repetência escolar aumenta. Faltam profissionais qualificados.

A pergunta a ser feita é o que poderemos esperar do futuro? Que tipo de programação será necessário para capturar a atenção das próximas gerações? Mas a irresistível omelete de Mike, fritada no ar com todos os condimentos disponíveis, fez com que Becky refletisse muito antes de tomar uma decisão, afinal ela havia conseguido transformar um bando de pessoas desanimadas, numa equipe afinada e interessada.



Benedicto Ismael Camargo Dutra é graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP, faz parte do Conselho de Administração do Hotel Transamerica Berrini e é associado ao Rotary Club de São Paulo. É articulista colaborador de jornais e realiza palestras sobre temas ligados à qualidade de vida. É também coordenador dos sites www.vidaeaprendizado.com.br e www.library.com.br, e autor dos livros: “Nola – o manuscrito que abalou o mundo”;“2012...e depois?”;“Desenvolvimento Humano”; “O Homem Sábio e os Jovens” ,“A trajetória do ser humano na Terra – em busca da verdade e da felicidade”; e “O segredo de Darwin - Uma aventura em busca da origem da vida”(Madras Editora). E-mail: bicdutra@library.com.br; Twitter: @bidutra7
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