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MINHA VIDA FOI MOLDADA PELA EDUCAÇÃO QUE RECEBI

Maria Helena Guimarães de Castro
11/08/2011



Meu sonho é transformar nossas escolas públicas em espaços efetivos de aprendizagem e garantir a todos os brasileiros o direito a ter uma Educação de qualidade.

Ao refletir sobre a importância da escola e da Educação no meu desenvolvimento pessoal e profissional, chego à conclusão que minha vida foi moldada pela Educação que recebi, pelos princípios éticos e morais valorizados por minha família, pela escola que frequentei, pelos professores que tive, pelos colegas de turma que conheci, por minha curiosidade em aprender e pela paixão que tenho por Educação.

Frequentei a mesma escola desde o primeiro ano primário até o clássico no Ensino Médio. Passei minha vida de criança e adolescente convivendo com os mesmos professores e grande parte de meus colegas de turma, pelo menos até o final do ginásio. Era um colégio católico de freiras em São Paulo, o mesmo onde minha mãe estudou e se formou como normalista. Algumas professoras freiras haviam sido também professoras de minha mãe. Essa escola teve um papel fundamental na minha vida. No primário, tive uma fantástica professora com quem mantenho contacto até hoje. No ginásio, algumas mestras marcaram profundamente minha formação, como a professora de Latim e a de Língua Portuguesa. No clássico, meus professores de história, sociologia e filosofia influenciaram de modo decisivo meu interesse pela área de ciências humanas.

O colégio Sacré-Coeur de Marie teve um papel central na minha vida. Lá aprendi a conviver num ambiente de aprendizagem muito colaborativo e alegre. A biblioteca era um lugar especial. Muitas aulas de português e de literatura eram dedicadas a discussões de livros e projetos na própria biblioteca. Muitas vezes visitávamos a Biblioteca Municipal Mario de Andrade sob a supervisão de nossos professores. A professora de francês costumava nos levar para assistir filmes de arte. Lembro do impacto causado pelo filme "Morangos Silvestres", de Ingmar Bergman, e das discussões em grupo sobre o cinema novo que surgia. Frequentemente, fazíamos pesquisa sobre os mais variados temas, desde questões de conjuntura política até temas da literatura clássica de vários países. Era uma escola de excelência, mas de elite. Muito poucos tinham acesso a escolas publicas ou privadas como essa.

Casei muito cedo e só ingressei na faculdade em 1977, já mãe de três filhos. Entrei no curso de Ciências Sociais da Unicamp, onde fiz minha graduação e o mestrado. Foi um retorno indescritível ao mundo do conhecimento depois de doze anos fora da escola. Nos primeiros meses de faculdade mergulhei de cabeça nos livros, vivia na biblioteca, fiquei deslumbrada com o curso, estudava de madrugada, conheci colegas e professores fantásticos muitos dos quais são meus amigos pessoais até hoje.

Foi uma fase de grande encantamento com o mundo do saber, grandes debates, muita agitação política, novas ideias. Em abril de 1977, o Congresso Nacional foi fechado. Era o início da transição lenta e gradual para a democracia, do retorno de muitos presos políticos, de grande ativação e mobilização de todos que, como eu, se opunham à ditadura e batalhavam pela construção democrática do nosso país. A Unicamp fervilhava e nós, alunos de Ciências Sociais, estávamos extremamente envolvidos neste processo.

Como aluna do mestrado de Ciência Política, comecei a trabalhar no Núcleo de Políticas Públicas e depois ingressei na carreira docente tornando-me professora de Ciência Política na Unicamp. Em 1989, ingressei no doutorado de Ciência Política na USP. Coordenei e participei de vários projetos de pesquisa, dedicando-me especialmente à área de políticas sociais com ênfase em saúde e Educação. Na graduação, ministrei cursos sobre instituições políticas brasileiras, teoria do Estado, Políticas Públicas, entre outros. Adorava dar aulas, conversar com meus alunos, orientar projetos, discutir ideias.

A partir de 1992, minha carreira acadêmica sofreu sobressaltos. Comecei a trabalhar na administração pública como Secretária Municipal de Educação de Campinas. A realidade do contato direto com a escola pública mudou minhas prioridades profissionais. Desde então, assumi um compromisso pessoal e profissional com a Educação pública de qualidade para todos.

Como presidente da Undime nacional, participei intensamente da Conferência Nacional de Educação de 1994. Posteriormente, como presidente do Inep/MEC, dediquei-me a desenvolver sistemas de informação e de avaliação que subsidiassem programas de melhoria da qualidade do sistema educacional brasileiro, como o Saeb, o Enem, o Provão. Participei intensamente das discussões da LDB de 1996, da implantação do Fundef, das propostas curriculares, enfim de um conjunto de políticas que tiveram grande impacto nas mudanças institucionais da Educação brasileira. Na Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social de São Paulo implantei projetos ligados à Educação de jovens em situação de vulnerabilidade. Na Secretaria de Educação de São Paulo, liderei a implantação da proposta curricular, novo Saresp, criação do Idesp e sistema de incentivos às escolas com a bonificação por desempenho.

Paralelamente às minhas atividades governamentais, me envolvi com grande entusiasmo nos movimentos da sociedade civil em defesa da Educação de qualidade para todos. Passei a colaborar com várias ONGs dedicadas à melhoria da educação e a valorizar a pesquisa em ação.

Hoje sou membro do Conselho Estadual de Educação de São Paulo e da Academia Brasileira de Educação. Minha vida é uma escola totalmente dedicada à educação. Meu sonho é transformar nossas escolas públicas em espaços efetivos de aprendizagem e garantir a todos os brasileiros o direito a ter uma Educação de qualidade. A Educação é a política pública mais importante para transformar o Brasil num país mais justo, ético e civilizado!

Fonte: Educar para crescer





Maria Helena Guimarães de Castro é socióloga e membro do Conselho Estadual de Educação de São Paulo e da Academia Brasileira de Educação
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