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ASSESSORIA DE IMPRENSA OU DO CLIENTE?

Vera Lúcia Rodrigues
01/12/2008



Muito se tem falado nos últimos tempos sobre o crescimento de uma atividade empresarial denominada assessoria de imprensa. Fala-se muito sobre números, mercado, clientes mas, na prática, pouco se tem falado sobre profissionalização, senso de responsabilidade e ética.
         
Didaticamente, se nos reportarmos à origem da expressão encontraremos o primeiro conflito de interesses. O termo usado é assessoria de imprensa. Semanticamente, devemos entender que a atividade teria como pressuposto básico um atendimento e uma assessoria ou facilidade para a imprensa, ou seja, para os jornalistas que estão do outro lado das redações, aqueles que editam e fazem acontecer as pautas e reportagens com os seus respectivos textos no dia-a-dia das redações. Só que, na prática, o que mais os jornalistas têm visto é uma assessoria do cliente.
 
É inegável que uma assessoria de imprensa bem feita, seja ligada ao governo, à iniciativa privada ou a um grupo de empresários ou em torno de uma entidade de classe, pode gerar boas matérias para os profissionais da imprensa e, mais ainda, agregar informações de uma maneira sistematizada e organizada, com vistas a facilitar um bom trabalho de apuração e cobertura por parte de jornais, revistas segmentadas ou não e até mesmo veículos televisivos ou radiofônicos.
         
O fato é que o crescimento desse mercado não foi acompanhado por um paralelo crescimento da formação dos profissionais envolvidos na área, salvo raras e honrosas exceções. Então, o que se verifica hoje no mercado é uma necessidade cada vez maior por parte das empresas formatarem a sua imagem ou até mesmo apresentarem seus novos produtos, exportações, ampliação, investimentos, novos planos de qualidade através de um trabalho organizado de fazer chegar essas notícias às redações. De outro lado, verifica-se um número cada vez menor de profissionais que estejam consoantes com essa nova realidade jornalística do país.
 
Os jornalistas da grande imprensa estão fartos de receber telefonemas de estagiários ou recém-formados em horário de fechamento, ou ainda informações fragmentadas que pouco ou quase nada tem a ver com as suas editorias respectivas. Para um número pequeno de pautas recheadas com números, informações consistentes e dados interessantes, verifica-se um sem número de releases recheados de  adjetivos e qualificações mais adequados a uma agência de propaganda do que a um trabalho sistemático de uma assessoria de imprensa. E, não raras vezes, o mesmo texto que é enviado à revista Cláudia, pode ser remetido ainda para a revista Minérios ou Brasil Mineral. Profissionais da área concluem que as mesmas pesquisas que apontam para o crescimento desse mercado indicam a necessidade de um aprofundamento maior dos profissionais envolvidos.
 
Formação em jornalismo, cursos profissionalizantes, workshops, leitura, participação em feiras, congressos e, mais do que tudo, respeito aos jornalistas e às características específicas dos seus veículos de atuação são ingredientes indispensáveis para o bom desempenho da função.
          
Da mesma forma que uma cirurgia não pode ser realizada por um historiador, assessoria de imprensa é tarefa do ofício de jornalismo. Os clientes  estarão bem atendidos com o respeito que a sua assessoria de imprensa suscitar dentro dos jornalistas envolvidos nas redações. Respeito esse que só poderá ser obtido através de uma postura ética e responsável perante os veículos onde for oportuno a publicação das notícias dos seus clientes. Uma assessoria de imprensa só pode ser considerada eficaz e gerar bons resultados se levar em conta a equação cliente x jornalista, sabendo se posicionar levando informações que possam atender à formação da imagem do seu cliente, mas, antes de tudo, possa ter pertinência e atender ao interesse das pautas dos jornalistas.
            
Resolver essa questão requer prática, habilidade, conhecimento e, acima de tudo, inteligência. Com esses requisitos acreditamos que qualquer assessoria de imprensa possa equacionar a questão inicial desse artigo, ou seja, ser uma assessoria de imprensa e do cliente, fazendo que com os interesses de um possam ajudar a atender às necessidades do outro. 



Vera Lucia Rodrigues é mestre em jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade São Paulo e diretora da Vervi Assessoria e Comunicações - veraluciarodrigues@globo.com ou vervi@grupovervi.com.br (11)2578.0422
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