Ao sair de automóvel da cidade de Fortaleza, capital do Ceará, atravessamos uma estrada que mais parece uma avenida e encontramos no percurso de 80 quilometros um cenário de desolação. O solo, no caminho, mais parece um carvão, quente e esturricado e a população, de renda baixa e reduzida escolaridade, enfrenta o terrível drama da falta de água. E como encontrar água numa paisagem literalmente queimada e com a sua vegetação destruída?
Percorrida essa área devastada chegamos ao pé da serra e prosseguimos com resolução para nos defrontar com uma outra visão, desta vez mais bela e acolhedora: a cidade de Guaramiranga que encanta pelos atrativos naturais. Trata-se de um pequeno município da região serrana do Estado do Ceará, localizado na microrregião de Baturité, mesorregião do Norte Cearense. A cidade conta com menos de dez mil habitantes e 108 km² de extensão e está a 865 metros de altitude.
Por estar localizada no Maciço de Baturité a aproximadamente mil metros acima do nível do mar, a vegetação é composta de remanescentes de mata atlântica e as temperaturas são sempre amenas, geralmente entre 16º e 25º C, que podem atingir 12º C no mês de Julho, proporcionando um frio agradável. Por essas condições climáticas é conhecida como “suíça cearense”.
Apesar de Guaramiranga ainda guardar o remanescente de mata atlântica, o seu entorno é desolador e nada tem sido feito, nem sequer ações de reflorestamento e erradicação das queimadas que poderiam atenuar os dramáticos efeitos do desmatamento. Os rios estão sem água. Os açudes e reservatórios, secos. Como cantava Luiz Gonzaga: “quando falta água, tudo em volta é só tristeza”. Qual terá sido a razão, ou melhor dito, a falta de razão para tamanha devastação?
A esse respeito, José Lutzemberguer, um dos mais destacados ambientalistas na defesa do patrimônio natural do Brasil, relatou o fato de que tendo perguntado a um caboclo o nome popular de uma determinada planta silvestre, recebeu o olhar surpreso do mesmo que lhe respondeu: “aquilo não é planta. É mato”. Assim como aquele caboclo, muitas pessoas consideram como mato tudo o que nasce sozinho, devendo ceder lugar para as plantações que possam ser convertidas em dinheiro.
O mais lamentável é que os seres humanos estão perdendo a sensibilidade para ver a beleza do nosso mundo. Agem como cegos e surdos diante dos sinais da natureza que anunciam as conseqüências de séculos de ação humana predatória. Talvez, por isso mesmo, poucas cidades valorizam a formação de parques e jardins para humanizar a paisagem. Prevalecem as cidades feias, monstruosas e sem hospitalidade, nas quais se quer passar rapidamente, sem parar nem para tomar água. Segundo Lutzemberger, além de contribuir para a saúde do corpo e da alma, a jardinagem poderá vir a ser uma atividade de grande valor educativo. Nesse sentido, torna-se indispensável incluir no currículo escolar o ensino da jardinagem. Esse seria um bom começo para impedir que as cidades continuem caminhando para o desequlíbrio e para a devastação do que é belo e essencial para a vida.