Das meninas iemenitas de segunda série, com roupas verdes e cabeça coberta até a classe só para meninos no Peru, todos vestidos com um uniforme que lembra o dos militares. Dos rapazes e moças ingleses de ensino médio usando gravata, passando pelos nigerianos de área rural que assistem aula em uma sala com mobiliário doado e até os adolescentes de uma escola pública de Belo Horizonte. Nada escapou às lentes de Julian Germain. Desde 2004, o inglês percorreu 19 países, dentre eles o Brasil, fotografando salas de aula. O resultado desse projeto se transformou em um apanhado de 87 imagens de escolas de todo o mundo, publicadas no livro
Classroom Portraits (ou Retratos da Sala de Aula, em livre tradução), da Prestel, lançado nesta semana.
Em todas as salas de aula que visitou, disse Germain ao
Porvir, ele se apresentava, contava do projeto e pedia licença para assistir a aula sentado em um canto. Quando o professor terminava, o fotógrafo posicionava seus equipamentos e tirava o retrato. O procedimento durava, no máximo, 15 minutos. Ele conta que sua preocupação era registrar uma atividade cotidiana. Por isso, pedia que o professor não apagasse o quadro nem que os alunos tirassem seus pertences de lugar. Outro cuidado que tinha era registrar tanto escolas rurais quanto urbanas e atividades de todas as disciplinas.
Apesar de evitar comparações, “para não fazer julgamento de valor”, Germain aponta outra disparidade que lhe chamou a atenção: a relação dos alunos com a escola. Em instituições no Reino Unido, onde educação é um direito adquirido, 47% das crianças disseram achar que a escola era chata, enquanto 16% disseram considerá-la necessária. No entanto, em países muito pobres, como Iêmen e Bangladesh, o fotógrafo percebeu que os alunos tinham outra perspectiva.
Germain conta que, em uma das cidades que visitou, resolveu tentar procurar o caminho de uma escola iemenita um dia antes do marcado para a fotografia. Mas, como não encontrava, resolveu pedir ajuda a um menino que jogava futebol na rua. O garoto guiou o inglês por entre ruelas, subidas e descidas e, nesse percurso, Germain resolveu perguntar se ele gostava da escola. “Ele me disse: ‘claro que sim’ e me olhou como se eu tivesse feito a pergunta mais estúpida que se possa imaginar”, disse. “Pelos nossos padrões, esse menino não estava recebendo uma educação boa, mas ele sabia que ele dependia disso para melhorar de vida.”
Depois de tantos países percorridos, tantas escolas visitadas, tantas fotografias tiradas, Germain conta que ficou com um sentimento paradoxal. Por um lado, constatou que as escolas são muito parecidas em todo o mundo. “Esse sistema educacional, com um professor na frente, as crianças diante dele e o quadro negro foi inventado nos tempos medievais. Você reconhece uma escola em qualquer lugar que você vá”. Por outro lado, apesar de ainda estarem muito marcadas pelo passado, as imagens passam uma esperança. “Fotografias sempre se referem ao passado, mas esse livro traz também implícito o sentimento de futuro porque são todas as crianças e adolescentes com uma vida inteira pela frente.”
Confira aqui a galeria com imagens feitas por Julian Germain. Em todas, os alunos olham para a fotografia, como se conversassem com o observador. “Foi proposital”, diz o inglês. “É muito desafiador ter crianças e jovens do mundo inteiro olhando para mim. Esse olhar meio que diz para nós, adultos, que o mundo no qual eles estão entrando é nossa responsabilidade.”
Fonte:
Estadão – Educação