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O SEGREDO DO CRESCIMENTO ROBUSTO

Joaquim Levy
03/12/2012



Aproveitar os juros baixos, lembrando de perseverar no esforço para a Educaçao, simplificaçao dos entraves burocraticos e atualizar a infra estrutura.

Para alguns analistas, a recente queda de juros no Brasil teria efeitos reminiscentes aos que se convencionou associar à extinção do tráfego de escravos em 1850.

Esta teria permitido redirecionar para a produção de manufaturas e outras atividades menos arcaicas o vultoso capital antes empatado nas atividades negreiras, ajudando o Segundo Reinado a viver seus melhores momentos.

Momentos para os quais concorreram, claro, a consolidação institucional com o Código Comercial, que vale até hoje, a conciliação promovida pelo marquês do Paraná entre liberais e conservadores e até a criação da Guarda Nacional e a convalidação da situação fundiária.

Tudo isso estaria na raiz das estradas de ferro e fábricas que surgiram à época.

Então, como podemos aproveitar os atuais juros baixos, considerando um ambiente internacional que favorece economias grandes e diversificadas como a brasileira, e o sucesso das reformas dos últimos 15 anos que, entre outros ganhos, tornou obsoleta a preocupação com a fuga de capitais? A resposta está no fortalecimento da poupança nacional e seus instrumentos.

Já temos instrumentos consolidados, como a indústria de fundos de investimentos, a quarta maior do mundo fora de paraísos fiscais. E outros recentes, como os incentivos tributários para a compra de debêntures (títulos de dívida) para o investimento em inovação e especialmente em infraestrutura.

Também se vislumbram novas oportunidades, com os movimentos do BNDES para apoiar o mercado de capitais, diminuindo o fardo sobre si e o Tesouro Nacional.

Mas, há alguns cuidados, porque a poupança livre é sensível e exigente. Tal poupança se ressente de constrangimentos e evita a incerteza.

A confiança na política fiscal e monetária é, portanto, talvez o maior indutor do aumento do horizonte de aplicação da poupança privada: ao se reduzir o risco agregado, os poupadores naturalmente procuraram papéis com mais risco individual. De fato, tem havido aumento espontâneo da demanda por debêntures privadas e, via fundos de investimento, letras financeiras.

Como a demografia e o aumento de renda disponível estão favorecendo o aumento da poupança das famílias, se a dívida pública bruta for caindo, os juros poderão mais facilmente se manter baixos e as famílias voluntariamente direcionar sua poupança para o financiamento do investimento de longo prazo.

Em um quadro sem sobressaltos para, por exemplo, as concessões de logística e energia, abrem-se assim possibilidades com extraordinárias repercussões para o desenvolvimento do Brasil. Aliás, os fundos de ações que investem em empresas de infraestrutura vêm tendo excelentes resultados.

Nesse ambiente, é importante que o fortalecimento da poupança das famílias e do governo não seja prejudicado pela fragilização da poupança das empresas, o único componente da poupança doméstica cujo nível em tempos normais não fica muito abaixo do de outros países.

Logo, vale o cuidado, no complicado cenário internacional em que o país navega, de não confundir o estímulo às margens de lucro de alguns setores, por razões relevantes, mas às vezes transitórias e às expensas de outros segmentos, com iniciativas que aumentem a produtividade total da economia.

A experiência de século e meio mostra que só o aumento da produtividade garante o crescimento sustentado do estoque de capital e da renda real do trabalhador. E é a perspectiva de acumulação de lucro que leva o poupador a acreditar na valorização das suas aplicações, por exemplo, no mercado acionário, motivando-o a financiar o crescimento.

O cuidado é ainda mais relevante quando alguns mecanismos de poupança forçada, como certos encargos no setor de energia, estão sendo desmontados e a indústria de fundos de investimentos, por sua consistência, granjeou a confiança do investidor, pois, como é sabido, a responsabilidade aumenta ao se cativar alguém.

Assim, os juros baixos e a abertura de novas áreas para o setor privado têm grande potencial transformador, mas vale lembrar que o segredo para o crescimento robusto, parafraseando aquele consultor político do presidente Clinton, "é a poupança, iconoclasta!".

Fonte: Folha de S.Paulo



Joaquim Levy, 51, engenheiro e doutor em economia, é diretor-superintendente da administradora de investimentos Bradesco Asset Management. Foi secretário do Tesouro (2003-2006, governo Lula) e secretário de Fazenda do RJ (2007-2010, Cabral)
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