Quando vamos ao cinema é para nos distrairmos ou aprender algo novo. Dependendo do tema abordado, vê-se na tela um emaranhado de situações que através de associações mentais tanto podem ser perturbadoras, como agradáveis e estimulantes. Tais visões despertam a igual espécie adormecida no subconsciente do espectador. Quando são positivas, incentivam a coragem e esperança. As cores, os sons, as atitudes, a entonação das vozes, penetram fundo, encontram a porta aberta, atravessam a barreira do raciocínio e se alojam no eu mais íntimo como se fossem coisas reais.
Há ainda o fator surpresa; de repente surgem cenas grotescas que velozmente adentram sem que haja tempo para reflexão. Como grande parte da população vai se deixando robotizar devido à sua indolência espiritual, agindo como máquina insensível que não quer saber de nada mais além da satisfação de suas necessidades e desejos, os impactos utilizados pelos criadores das tramas tornam-se cada vez mais fortes e chocantes, e as pessoas se vão distanciando do saber da real finalidade da vida, ignorada por grande parcela dos seres humanos.
Lamentavelmente, formas negativas fazem parte da maioria dos filmes da atualidade. O espectador sai do cinema levando uma carga pesada que afeta o seu bom humor, pois pagou sem saber exatamente o que estava comprando. As sinopses iludem. Algumas pessoas não se incomodam por terem gasto dinheiro e abandonam a sala de exibição quando o filme não é o que imaginaram.
A moda, nesta temporada, são filmes de guerra apresentando lutas tão ferozes que nos envergonham como espécie humana. Num desses filmes – que nem me lembro se foi Invasão da Casa Branca, por sinal carregado de ódio e violência desumana, ou um outro – o herói faz uma bomba suja com tudo quanto é metal que encontrou para explodir na cara dos bandidos. Muito triste que algo semelhante tenha sido detonado recentemente na maratona de Boston (EUA), quando a população se confraternizava num momento de paz e alegria. Positivamente os humanos não estão cumprindo a sua tarefa na Criação; falta-lhes vontade e preparo para a vida.
As bilheterias são dominadas pelos filmes produzidos no Estados Unidos, que fizeram do cinema um poderoso e eficiente instrumento de penetração cultural.
Precisamos que os cineastas nos ofereçam filmes de boa qualidade que distraiam e instruam com modelos enobrecedores de vida. Os filmes brasileiros representam menos de 5% da bilheteria, por isso devem ser produzidos com mais esmero.
O Brasil e o mundo necessitam de bons roteiristas que apresentem histórias empolgantes de encorajamento, perseverança e fé na melhora da espécie humana. Temos sido submetidos a uma enxurrada de filmes nacionais e estrangeiros que não acrescentam nada, não motivam a coisa alguma, mas suas imagens aceleradas com um som infernal estouram os alto-falantes, criando um mal estar nos espectadores pelo baixo nível do conteúdo apresentado e pelo tempo desperdiçado no cinema, que poderia ter sido aproveitado para a leitura de um bom livro.
Referindo-se a nossa época, a escritora Roselis von Sass disse no livro Fios do Destino, que: “todo ser humano necessita hoje, muito mais do que em outras épocas, do saber da Criação. Necessita conhecer os efeitos das leis que atuam governando e guiando todos os mundos e todas as criaturas, para que não tenham de enfrentar, confusos e incompreensíveis, os acontecimentos atuais da Terra”.
O cinema poderia explicar melhor a nossa condição humana, no entanto a maioria dos filmes são alienantes a esse respeito. Como bem resume o escritor peruano Mario Vargas Llosa, que esteve recentemente em São Paulo para proferir a palestra Civilização do Espetáculo, na abertura do Fronteiras do Pensamento, falando sobre a decadência cultural: “a mesma cultura que nos tirou das grutas e nos levou às estrelas pode, desprovida de fogo, de vigor, nos fazer retroceder às cavernas”. Os cineastas que se cuidem, pois as salas poderão se esvaziar.