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O aprendizado na atualidade

Benedicto Ismael C. Dutra
07/10/2017



O grande laboratório para aprendizado está no contato com a natureza, sua beleza e sua lógica. Um vídeo mostra as belezas, mas é preciso ver de perto, por a mão na massa, ver fazer e fazer efetivamente, tudo contribuindo para a boa assimilação, descortino, iniciativa, decisão. 
 
Com os novos processos tecnológicos corre-se o risco de o indivíduo passar a agir da mesma forma que a máquina, sem intuição própria, sem concentração, apenas executando comandos.
 
Veja a seguir o artigo do colunista Guy Perelmuter, publicado no jornal O Estado de Sâo Paulo em 05 de outubro de 2017
(http://economia.estadao.com.br/noticias/negocios,a-terceirizacao-da-memoria,70002027427):
 
 
A terceirização da memória

O acesso constante à tecnologia vem acompanhado por uma perigosa dependência, causando impactos relevantes no processo de aprendizado
 
Por:Guy Perelmuter*
 
A chamada Geração Z - formada pelos nascidos a partir da metade da década de 90 e que começam a chegar ao mercado de trabalho - encontrou um mundo repleto de tecnologias bem estabelecidas porém relativamente novas para as gerações anteriores. Para este grupo, smartphones, tablets, wi-fi, "likes", "compartilhamentos" e informações em tempo real são pilares fundamentais da sociedade, e em grande medida a forma como se relacionam entre si e com todos à sua volta. Sua confiança e dependência em relação à tecnologia é tão significativa que poucos se dão ao trabalho de memorizar qualquer coisa - afinal, o smartphone está sempre ao alcance das mãos (normalmente, nas mãos) e a partir dele nenhum dado está longe demais. Coisas simples, como números de telefone, há muito tempo pararam de ser memorizadas - está tudo na agenda do celular. De fato, a memória foi "terceirizada" para as máquinas que nos cercam. 
 
Este fato tem implicações relevantes e que ainda estão sendo pesquisadas. Em dezembro de 2013 a Dra. Linda Henkel, do Departamento de Psicologia da Universidade de Fairfield em Connecticut, Estados Unidos, publicou um trabalho de pesquisa a respeito do impacto na memória do uso constante de fotos. Em seu estudo, ela visitou um museu com um grupo de estudantes, pedindo que alguns objetos de arte fossem fotografados e outros não. A conclusão foi pouco intuitiva: as memórias referentes aos detalhes e localização dos objetos que não foram fotografados eram melhores que as memórias daquilo que foi fotografado. No entanto, quando ao invés de fotografar o objeto como um todo a foto tinha como foco algum detalhe específico,  a memória daquele objeto em particular era mais vívida. Além disso, a noção de que as fotos que tiramos irão nos ajudar a lembrar do que aconteceu esbarra na realidade que muitas pessoas enfrentam: a facilidade e o excesso de fotos que tiramos o tempo todo dificulta sua organização e o acesso às mesmas. As pessoas tendem a tirar as fotos e armazená-las, dificilmente reservando tempo para organizá-las e revê-las.
 
O desafio de integrar o processo educacional com a tecnologia não é simples. Além da dinâmica do aprendizado em si estar mudando rapidamente com a inserção de computadores e smartphones na vida de crianças com meses de vida, a forma como a informação é transmitida e armazenada também muda de forma significativa com o uso da tecnologia. Educar é muito mais que simplesmente transmitir o conhecimento, e alguns argumentam que o próprio processo de aprendizado é mais difícil quando a tecnologia ocupa posição de destaque. O autor norte-americano Nicholas Carr publicou, em 2010, o livro "The Shallows: What the Internet is doing to our Brains" (algo como "Superficialidade: o que a Internet está fazendo com nossos cérebros") que foi um dos finalistas do prêmio Pulitzer no ano seguinte. De acordo com Carr, utilizar a Internet é como tentar ler um livro e resolver um quebra-cabeça ao mesmo tempo - não há espaço para concentração e profundidade em meio às interrupções geradas pelo próprio meio.
 
Pesquisas publicadas por diversos grupos independentes e utilizando vários métodos de avaliação indicam que o excesso de informações com as quais nos deparamos em um típico texto na Internet - com links para referências adicionais, áudio, vídeo, notas, propagandas e afins - prejudica a capacidade de concentração e mantém o cérebro ocupado, tomando decisões sobre o que deve ou não ser clicado. "Aprender" é a transmissão do conhecimento que está sendo absorvido pela memória de curto prazo para a memória de longo prazo - e quanto menos interrupções e distrações nossa memória de curto prazo encontrar, mais eficiente será esta transmissão. Quando enfrentamos um excesso de "carga cognitiva", a capacidade de armazenar e relacionar o novo conhecimento com aquilo que já sabemos é prejudicada. 
 
A própria estrutura das conexões neurais dos usuários da Internet é diferente. O professor de Psiquiatria da Universidade da Califórnia em Los Angeles, Dr. Gary Small, comparou, em um estudo realizado em 2007, imagens obtidas a partir de ressonâncias magnéticas dos cérebros de voluntários "veteranos" e "novatos" na Internet enquanto eles realizavam buscas online. As áreas do cérebro que eram ativadas para os dois grupos eram significativamente diferentes, mas apenas cinco dias depois de utilizar a Internet por no mínimo uma hora por dia o cérebro dos "novatos" já se comportava como o cérebro dos "veteranos" - ou seja, com relativamente pouco tempo de uso a dinâmica de ativação dos neurônios passa por modificações. Tudo isso precisa ser levado em consideração para que se possa entender a importância e a complexidade da evolução da área de EdTech - ou "educação tecnológica", nosso tema para semana que vem. Até lá.
 
* Guy Perelmuter é fundador da GRIDS Capital, Engenheiro de Computação e Mestre em Inteligência Artificial
 
 



Benedicto Ismael Camargo Dutra é graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP, faz parte do Conselho de Administração do Hotel Transamerica Berrini e é associado ao Rotary Club de São Paulo. É articulista colaborador de jornais e realiza palestras sobre temas ligados à qualidade de vida. É também coordenador dos sites www.vidaeaprendizado.com.br e www.library.com.br, e autor dos livros: “Nola – o manuscrito que abalou o mundo”;“2012...e depois?”;“Desenvolvimento Humano”; “O Homem Sábio e os Jovens” ,“A trajetória do ser humano na Terra – em busca da verdade e da felicidade”; e “O segredo de Darwin - Uma aventura em busca da origem da vida”(Madras Editora). E-mail: bicdutra@library.com.br; Twitter: @bidutra7
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