A exploração de petróleo na profundeza dos mares é uma operação que oferece riscos. As condições de trabalho são inóspitas e os trabalhadores ficam sempre sujeitos a enfrentar situações perigosas. Mas não é só isso, mesmo que sejam adotados todos os cuidados, vazamentos sempre poderão ocorrer.
A tragédia que ocorreu no Golfo do México demonstra bem esse problema. A explosão e o afundamento da plataforma da Britsh Petroleun, as vítimas fatais e o vazamento continuado de petróleo, representam um grave sinal de alerta sobre as nossas limitações quando as coisas escapam do controle. Cerca de 800 mil litros por dia, que não se sabe como estancar, espalhando-se com as ondas e empurrados pelos ventos na direção da costa americana, ameaçando a fauna e a flora e a exploração de peixes e camarões na região, invadindo as áreas pantanosas que filtram as águas, e pondo em risco a vida selvagem. O vazamento pode se tornar o pior desastre ambiental da história dos Estados Unidos, pois os recursos técnicos disponíveis ainda não foram suficientes para fazer a contenção.
Deixando de lado essa questão e mudando o foco para a Grécia, verificamos que também lá as coisas escaparam do controle. O galope da dívida foi acelerado até que o controle foi para o espaço. De chapéu na mão a Grécia pede dinheiro. Teria sido o Euro um cavalo de Tróia para os gregos? Ou o novo cavalo de Tróia está carregado de papeis gregos de baixa liquidez? O país acumulou uma dívida de 300 bilhões de euros e um déficit fiscal em 2009 de 13,6%, bem acima do teto fixado pelo Tratado de Maastricht para os países da zona do euro, (3% do PIB).
A Grécia passa por um desequilíbrio fiscal devido à crise financeira global que atingiu as principais economias do mundo a partir de 2008: com a arrecadação em baixa e os gastos em alta, ela gasta mais do que arrecada. Numa situação de desequilíbrio o custo financeiro é o primeiro a subir, e para honrar os compromissos há a necessidade de renegociar a dívida. Nessa hora surgem as imposições de praxe: corte de despesas e investimentos do governo, redução de salários e aposentadorias, flexibilização do trabalho, privatizações, perda de poder para autogestão. A Grécia não está sozinha nisso, outros paises da Europa se encontram na mesma situação deficitária, com ameaças para a população. Ou seja, situação pela qual o Brasil já teve de enfrentar várias vezes para se submeter ao receituário do FMI.
A situação se complica porque o Euro como moeda única de vários paises está subordinado a um controle centralizado, os gregos não sabem o que fazer. Diante da insolvência a solução depende da injeção de novos empréstimos que trarão dificuldades para a sua liquidação. Assim como a Grécia, outros países enfrentam o problema de os gastos serem superiores à arrecadação. Diante dessa situação o mundo pode estar caminhando para um novo e irresistível descontrole monetário. O dólar foi desvalorizado. A moeda chinesa acompanhou. O Euro mais valorizado criou impasses nas exportações, mas agora com os déficits fiscais está sob pressão para desvalorização.
Enfim fica evidente que as coisas poderão ficar fora de controle e, no caso das moedas, isso interfere na economia como um todo. Quando o dinheiro passou a ser usado amplamente não apenas para financiar a produção e consumo, tornando-se uma poderosa arma estratégica de influência e dominação, ele perdeu a sua característica de meio de trocas, passando a sua acumulação a ser considerada como fim em si. Com a acumulação, aumentou a voragem, e a especulação passou a ser considerada como a forma de aumentar continuamente a riqueza financeira, em papeis ou em bits nos supercomputadores. Um grande castelo de areia que veio abaixo em 2008.
Com a forte participação governamental, utilizando recursos que pertencem à população, o castelo de areia começou a ser remendado, mas são muitas as rachaduras e incertezas camufladas. O que poderemos esperar quando elas ficarem expostas? Quando a realidade se evidenciar, poderá ser tarde demais para soluções equânimes, e a miséria poderá se espalhar pelos continentes dando origem a ásperas e amargas condições de vida até agora insuspeitadas para grande parte da população dos países desenvolvidos.