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Frutos contaminados

Benedicto Ismael C. Dutra
26/02/2019



 Enquanto a Argentina, de Domingo Cavallo, e o Brasil, do Plano Real, inventavam a utopia da dolarização e juros elevados, Japão, Índia e China praticavam política cambial realista, avançando na produção de manufaturas e tecnologias. Assim acabamos ficando para trás. 

A China tem aumentado a sua reserva em dólares e avança na produção de manufaturas para exportar, e na tecnologia de ponta, sendo olhada com admiração pelo poder tirânico. Enquanto isso, muitos países, inclusive o Brasil, se encheram de dívidas enfrentando queda na produção, na arrecadação, no salário e na aposentadoria, embora os encargos e custos gerais sempre vão sendo corrigidos. Mas o custo do comunismo, mais do que outros sistemas, é a redução das individualidades e da criatividade, robotizando o ser humano. 
 
A recuperação do Brasil, há décadas gerido com displicência e assalto às suas riquezas, está complicada. O diferencial de Jair Bolsonaro na presidência é que ele se elegeu sem as amarras dos grandes doadores de campanha eleitoral e seus interesses, embora mesmo assim terá pela frente os poderes e a máquina mal-acostumados. 
 
Após décadas de estagnação, surge a oportunidade de eliminar o continuísmo da demagogia, mas a reação não se faz por esperar, e o Brasil deu mostra de sua imaturidade política causadora do descalabro que enfrentamos em todos os setores. Falando sobre o processo de eleição no Senado, Randolfe Rodrigues, senador do Amapá filiado à Rede Sustentabilidade, afirmou: “É um triste espetáculo, chegar a ponto de a senadora Kátia Abreu (PDT-TO) furtar o livro de ordem. Chegamos ao fundo do poço da política”. A colheita vem celeremente trazendo os frutos amargos da irresponsabilidade. Estamos vivendo as derradeiras chances de o país se tornar efetivamente livre dos sanguessugas. 
 
Para que lado a economia do Brasil poderá se expandir? Commodities para exportação são importantes, pois atraem dólares, mas não geram muitos empregos e podem causar danos. Os serviços em geral requerem que a população tenha renda para consumir. Na indústria ficamos travados com baixa produtividade e real valorizado por longo período, favorecendo a entrada de importados e o consequente despreparo técnico. 
 
Os países arrecadam dinheiro dos impostos. Quem paga os impostos é a população, diretamente de suas rendas ou indiretamente no custo de tudo o que consome. A arrecadação é sugada pela corrupção nas negociatas, nos encargos sobre as dívidas, nas estatais mal geridas, nos custos descontrolados sobrando pouco para a melhora das condições gerais de vida. 
 
Enquanto podem, os governos vão emitindo dinheiro e facilmente se deixam levar pela tentação de tomar empréstimos. Cair no endividamento é a grande falha dos governantes que hipotecam as riquezas do país e o trabalho de sua população, sem contrapartida que impulsione o aprimoramento das novas gerações.
 
O lamentável foi ter permitido o crescimento explosivo da dívida com juros elevados. Dívida é a mais crítica questão da gestão pública. Aí a irresponsabilidade levou o país à beira do abismo sem que tivesse destinado os valores em benfeitorias de real proveito. Como a economia poderá ser dinamizada?
 
O governo precisa cortar gastos inúteis que nada produzem e fechar o ralo da corrupção em seus gastos e investimentos. O intercâmbio entre países é importante, mas se não for feito com equilíbrio, sugará as potencialidades. Para que haja progresso, o intercâmbio entre os países requer equilíbrio.
 
Como são feitas as leis dos homens? Elas levam em consideração o principal axioma de que não se deve causar sofrimentos ao próximo para satisfazer as próprias cobiças? Se considerassem isso, muita coisa teria sido diferente e não seria necessária a criação de tantas leis que, na essência, buscam defender os interesses de quem pode mais. Juristas e juízes sabem bem como respeitar as leis; se isso é justo ou não, é outra conversa. 
 
Essa é a triste realidade de uma civilização que, por sua cobiça por uma riqueza menor, perdeu a visão da beleza e da grande riqueza da natureza que a tudo sustenta. Em geral, os países não têm dado muito apreço à natureza e vão produzindo frutos contaminados. Observa-se a displicência e a irresponsabilidade em tudo, sem deixar espaço para metas de promover a continuada melhora das condições gerais de vida da população.



Benedicto Ismael Camargo Dutra é graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP, faz parte do Conselho de Administração do Hotel Transamerica Berrini e é associado ao Rotary Club de São Paulo. É articulista colaborador de jornais e realiza palestras sobre temas ligados à qualidade de vida. É também coordenador dos sites www.vidaeaprendizado.com.br e www.library.com.br, e autor dos livros: “Nola – o manuscrito que abalou o mundo”;“2012...e depois?”;“Desenvolvimento Humano”; “O Homem Sábio e os Jovens” ,“A trajetória do ser humano na Terra – em busca da verdade e da felicidade”; e “O segredo de Darwin - Uma aventura em busca da origem da vida”(Madras Editora). E-mail: bicdutra@library.com.br; Twitter: @bidutra7
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