Tenho ido ao cinema com certa frequência e quase sempre me surpreendo olhando o relógio várias vezes para ver quanto tempo ainda tenho de ficar na poltrona, olhando para a tela que não apresenta nada empolgante. Mas, em Tropa de Elite 2 foi diferente; envolvido com a trama e acompanhando a firmeza do coronel Nascimento, não olhei para o relógio nenhuma vez.
Dizer que o filme, dirigido por José Padilha, retrata a violência no Brasil é pouco, pois retrata a violência que predomina no planeta. É verdade que em alguns lugares a violência é dissimulada e refinada, enquanto que em outros é ainda mais cruel e explosiva. No entanto, por trás de tudo há sempre o mesmo: o apego ao poder que se infiltra no sangue de tal forma que os fins passam a justificar os meios, quaisquer meios, desde que seja assegurada a conquista e a conservação do poder.
Apesar de mostrar com agilidade a podridão que associa políticos e marginais, o filme é limpo e inspirador, não há cenas de sexualidade embrutecida, nem incentivo ao tabagismo ou demais drogas. Ao contrário, há uma ânsia pela justiça e pelo bem, pois faz nascer a esperança de que uma nova geração está em gestação, e que dias melhores poderão surgir. Antes, porém, muita sujeira terá que ser eliminada para que possa surgir a Quarta Onda, a qual vem sendo retardada pelos interesses mesquinhos e egocêntricos de uma humanidade que se deixou contaminar pela indolência, afastando-se de seu real propósito.
Alvin Toffler, escritor e futurista norte-americano, doutorado em Letras, Leis e Ciência, centrou-se em examinar a reação da sociedade e as mudanças que esta sofre. Segundo esse pensador, o planeta foi sacudido pela revolução agrícola, a Primeira Onda, com a fixação do homem à Terra, deixando a cultura nômade. A Segunda Onda veio com a Revolução Industrial e a produção segmentada em plantas fabris. A Terceira Onda veio com o poder intelectual da economia, mas a predominância teve por foco o econômico e o financeiro, subordinando o ser humano e a natureza aos objetivos do lucro e do poder, ficando tudo submetido ao dinheiro e ao cálculo financeiro: a cultura de massa, a arte e a política.
Assim tivemos no século 20 uma destruição da natureza sem paralelos e corremos o risco de destruição das preciosas condições de vida existentes no planeta. Por outro lado, ocorreu uma assombrosa deterioração na educação e na qualidade humana. Como diz o Coronel Nascimento: “isso tudo tinha que dar m…”.
O sistema democrático de escolha dos governantes através do voto individual deveria ter conduzido os povos para o seu aprimoramento e para uma continuada melhora das condições de vida. No entanto, na falta de uma visão mais elevada e enobrecedora, a escolha dos candidatos passou a ser uma jogada de marketing para influenciar o eleitor, envolvendo um colossal montante de dinheiro e abrindo brechas para interesses escusos.
Num mundo sacudido pela violência, necessitamos de algo novo, uma Quarta Onda fundamentada na consideração humana e sustentabilidade, que resgate a humanidade da brutalidade e ignorância. O ser humano assumirá, enfim, o papel que lhe cabe, utilizando o conhecimento e a tecnologia para promover evolução em harmonia e embelezamento do planeta e para isso necessitamos de uma educação de qualidade.
No cenário atual, a educação e o preparo das novas gerações surgem como uma das grandes prioridades do país. No entanto, face ao despreparo de grande parcela da população de baixa renda, em que o casal ou a mãe solteira tem pouca ou nenhuma escolaridade, ou se a mãe desconhece os cuidados que deve observar durante a gravidez, tornou-se evidente a necessidade de que a educação tenha ampliada a sua ação desde a gravidez. Existe o sério risco dessas futuras mães não conseguirem os meios para prover uma saudável alimentação durante a gestação, prejudicando a criança em formação, o que se agrava com os vícios ligados ao tabagismo, álcool e drogas.
A educação de qualidade depende de um conjunto de ações. Devemos destacar a importância da educação infantil a partir da gestação e da orientação dos pais. O Brasil precisa de programas de desenvolvimento infantil desde os primeiros anos de vida, como a melhor ferramenta para corrigir desigualdades e promover o desenvolvimento social.
Necessitamos dar um novo rumo para a educação infantil através de assistência às grávidas e creches. Quanto aos jovens, além de aprender um ofício, devem praticar esportes e artes, recebendo valores morais, éticos, respeito e consideração pelo semelhante e cuidados com o meio ambiente. Também deverão receber orientação sobre as questões ligadas à sexualidade responsável e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. A educação plena é a solução para um melhor futuro. É o principal instrumento para a construção de uma sociedade mais humana e pacífica e em permanente evolução.
Um filme de primeira, Tropa de Elite 2 faz jus ao Oscar e mostra que algo precisa ser feito para reverter a tão perturbadora decadência humana.