RSS
 

O PODER MÁGICO DE UM CORREDOR IMAGINÁRIO – FALÁCIAS DOS DISCURSOS POLÍTICOS

Maria Isabel G. C. Franco
27/07/2011



Nessas discussões entre a sociedade civil preocupada com as questões ambientais e sociais no município, temos ouvido e presenciado, perplexos, não um discurso de mediação de interesses e conflitos, mas a nítida tomada e defesa de posição, de interesses econômicos, como se estivéssemos em palanques montados para eleições.

Temos sido sempre acusados, nós, socioambientalistas preocupados seriamente com as questões desse novo processo de exclusão na sociedade contemporânea, que é a exclusão ambiental, a injustiça ambiental, de "burgueses" interessados em seu próprio "umbigo". Como se aqueles que assim acusam não tivessem também suas chácaras, carros importados, cavalos, com os quais são vistos em doces cavalgadas pela região da APA Embu Verde…

O pensamento socioambientalista vem se construindo em uma corrente que comporta sérias reflexões éticas, e ações nessa perspectiva, sobre a distribuição desigual de renda, e uma de suas tantas funestas consequências, a distribuição desigual dos impactos ambientais. Estes últimos penalizam, com maior violência e dramaticidade, aqueles excluídos das condições dignas de moradia, aqueles que só podem morar em áreas degradadas, áreas de risco, áreas inundáveis, áreas invadidas, terrenos grilados, mais baratos, acessíveis à sua condição de excluídos permanentes das benesses do modelo econômico, portanto, dos direitos de cidadania.

Nessas discussões entre a sociedade civil preocupada com as questões ambientais e sociais no município, temos ouvido e presenciado, perplexos, não um discurso de mediação de interesses e conflitos, papel do poder público e, nesse processo de construção do Plano Diretor, papel que se esperaria do poder público de Embu das Artes, mas a nítida tomada e defesa de posição, de interesses econômicos, como se estivéssemos em palanques montados para eleições.

Um discurso perigoso que amplia e exacerba conflitos entre classes sociais e não oportuniza o diálogo e a gestão transparente e esclarecida de interesses diferentes. Um discurso obscuro, como se os donos do poder econômico que ora defendem a instalação de um corredor industrial numa zona de APA, - área de relevante importância ambiental, patrimônio, não dos ricos, mas da cidade, direito de seus habitantes, - fossem todos assalariados, moradores das regiões pobres ou degradadas da cidade, ou defensores de um achatamento dos seus próprios rendimentos para favorecer um aumento dos ganhos daqueles que são os empregados das propaladas "indústrias milagrosas" que poderiam se instalar na APA, se esses "ambientalistas burgueses" parassem de insistir em tempo para analisar as condições e propósitos dessas instalações.

E, magicamente, como jamais ocorreu em nenhum outro local do Planeta, aqui em Embu, na região da APA, essas indústrias e galpões logísticos trariam moradias dignas, empregos com salários adequados, compatíveis com a possibilidade de seus assalariados, de colocarem seus filhos em escolas de qualidade, que deverão também ocorrer aqui na APA, por conta das milagrosas indústrias; de custearem planos de saúde, ou quem sabe, também pelo milagre das indústrias, essas mágicas, que virão para a APA Embu Verde, terem na região a construção de hospital, saneamento básico, áreas de lazer, clubes, tudo aquilo sonhado, desejado e imperativo para a qualidade da vida humana.

Bem, na história da modernidade, até o momento, não temos notícias de nenhum país ou cidade que tenha conseguido esses avanços, somente com a mágica instalação de indústrias. Nenhum país sério conseguiu ainda realizar milagre que não partisse de condições de salários compatíveis com a dignidade humana, com políticas públicas éticas, sérias, transparentes, livres dessa praga da corrupção. Mas, aqui na região da APA Embu Verde se espera a "aparição" de uma nova classe social, que nascerá do Plano Diretor proposto, com esse mesmo modelo de desenvolvimento econômico e de distribuição de renda injusto e predatório, porque isso não está em discussão, e porque essa é a construção imaginária que se está estabelecendo com os novos discursos de alguns representantes poder imobiliário, empresarial e político que têm se instaurado nas últimas reuniões promovidas para a discussão do Plano Diretor.

Interessante como ouvimos das pessoas que desciam dos ônibus e kombis para participarem da Audiência Pública, organizada pela Prefeitura de Embu, em 27 de junho último, a convicção de que tinham sido convidados a "participarem" tendo a perspectiva de que, uma vez cadastrados no programa Minha Casa, Minha Vida, do Governo Federal, conseguiriam finalmente as suas casas. Outras, afirmavam que se não tivessem vindo não receberiam mais o leite. Mas, Plano Diretor, não, não sabiam o que era isso, não…

Perigosos discursos esses, que ninguém sabe de onde saem, mas que iludem e instauram uma "participação" desinformada.

Nós, socioambientalistas de Embu, pertencentes a entidades, associações ou não, moradores, cidadãos e cidadãs, estamos preocupados em discutir o que virá para os próximos dez anos, dialogar sobre um planejamento comprometido sim com moradias sociais, com economias alternativas e sustentáveis, com uma adequação de espaços em territórios ambientalmente compatíveis com a preservação da qualidade da água, do ar, com a biodiversidade, com a VIDA em todas as suas nuances, VIDA boa para todos, e pensarmos juntos, com tempo, com transparência, com dignidade, quais as ações, os planejamentos, as políticas, as ECONOMIAS, as ECOLOGIAS necessários e possíveis para Embu das Artes, Embu das Matas, Embu das Águas, Embu das Pessoas Dignas, Embu, a "Feliz Cidade", como já sonhou nosso deputado Geraldo Cruz.

Assim, deixo aqui, como lembrança para todos os utopistas, cujos valores de felicidade, paz e justiça movem as suas esperanças e ações, uma poderosa e sábia constatação de Margaret Mead:

"Nunca duvide que um pequeno grupo de cidadãos preocupados e comprometidos possa mudar o mundo; de fato, é só isso que o tem mudado".




Maria Isabel G. C. Franco é Professora e Educadora Ambiental; Doutora em Educação, colaboradora e pesquisadora do TEIA – USP, Laboratório de Educação e Ambiente; Coordenadora do projeto “Diagnóstico Socioambiental da APA Embu Verde – Educação Ambiental na Bacia do Rio Cotia”, pela Sociedade Ecológica Amigos de Embu; Coordenadora e colaboradora do projeto “Agenda 21 Escolar de Embu das Artes” desde 2005.
Enviar um Comentário:

Nome:
Email:
  Publicar meu email
Comentário:
Digite o texto que
aparece na imagem:

Vida e Aprendizado 2011.
Reproduçao total ou parcial do conteúdo deste site deverá mencionar a fonte.